MENSAGEM DO DIRECTOR
Tomei posse como Director do Centro e Missão Majajane no dia 20 de Março de 2024, data com um significado especial por se tratar do início da Primavera*, período de renovação e crescimento. Algumas palavras me parecem importantes agora, pois torna-se fundamental iluminar um pouco o caminho do desenvolvimento que iremos seguir e, quem sabe, sensibilizar todos aqueles que queiram juntar-se a nós neste esforço colectivo de contribuir para a melhoria da vida das pessoas, das famílias, e suas comunidades.
Tenho acompanhado esta instituição desde a sua criação. Nasci, cresci, brinquei, estudei e percorri os primeiros passos da minha vida em Moçambique. Sentir a chuva grossa e quente na cara quando os céus subitamente irrompem em fúria e o intenso aroma exala da terra avermelhada e nos embriaga em fantasias suspensas no tempo, são sensações que apenas podem ser apreciadas se vividas. Subir às árvores era quase como um ritual que acontecia ao final da tarde, naquela hora mágica quando a brisa suavemente começava a fluir pelas folhas das árvores sagradas, os pássaros subitamente se calavam e a vida selvagem ficava como que suspensa à espera do cair da noite, as estrelas pelo horizonte a nascer em quadros de luz de todas as cores e matizes possíveis, rosas intensos a laranjas fortes, e o profundo azul negro e perfumado se ia derramando pelos céus como que numa breve pausa a dádiva da paz era dada a todos os seres que, nesse momento, sentiam a natureza a reciclar o espírito da vida.
Nesses momentos, o gracioso vento nocturno que aos poucos vinha chegando em brandos ciclones mágicos fazia sussurrar nas folhas palavras de sabedoria, lembrar que todas as formas de vida são sagradas, e nós, ínfimos seres, apenas somos seres transientes que um dia partiremos para lá da estrelas, e os nossos corpos remanescerão em pó e lama na nossa colectiva casa, o nosso maravilhoso e encantado planeta azul que devemos zelosamente cuidar - a Terra -, que sustenta o nosso mais precioso bem, uma coisa verdadeiramente misteriosa e mágica, a Vida.
Outras coisas realmente sensacionais era o ouvir as histórias contadas quando todos nos sentávamos à sombra de uma grande árvore, aquela figueira, aquela mafurreira. Isto transmitia-nos um profundo sentido de pertença, uma identidade que se criava e solidificava num enorme laço que a todos nos unida, verdadeiramente sentido quando ríamos, quando chorávamos. Uma grande lição aos poucos ia silenciosamente maturando no nosso espírito: que a vida deve ser partilhada e todos nós nos devemos sentir como que iguais, no respeito uns pelos outros, repartindo as coisas entre nós para que a ninguém nada falte.
Todas essas vivências e experiências foram amadurecendo em mim, anos e anos em caminhos percorridos, até me terem conduzido à compreensão que, em última análise, todos vivemos na mesma casa, todos respiramos o mesmo ar, e todos queremos uma vida boa. Porém, o estado do mundo e o actual e acelerado processo de globalização e degradação ambiental tem colocado a humanidade perante o enorme desafio e responsabilidade em implementar a nível global a filosofia do desenvolvimento sustentável. A humanidade encontra-se hoje num ponto singular de viragem civilizacional e face a uma situação crítica, estando em causa a sua sobrevivência enquanto espécie e neste planeta. Desta situação crítica emerge na sua essência o binómio Homem-Natureza, isto é, como harmonizar o desenvolvimento civilizacional com a utilização sustentável dos recursos naturais; ou, noutras palavras, harmonizar o governo dos povos com o governo dos recursos naturais. Nenhuma Nação consegue por si só resolver os assuntos globais, sendo que se torna importante promover o diálogo e a cooperação internacional, construir a paz universal e valorizar a vida em todos os domínios e aspectos. Falarmos da humanidade e da natureza é falarmos da paz e da vida. Todos estes conceitos estão interligados, todos se conjugam e todos se influenciam reciprocamente.
A todos nós individualmente cabe um papel que, ainda que muito pequeno nos possa parecer, é a base de tudo. Juntos, em sociedade, em comunhão de valores e princípios, poderemos incrementar os factores de escala, dimensão e impacto gerados. Mas tudo começa na nossa singular pessoa, a base da sociedade. Por isso, se torna importante elevar a noção de dignidade e integridade da pessoa humana, da sua importância no mundo, e do responsável papel que a todos nós recai. O desenvolvimento humano e comunitário - o eu e a sociedade - é uma linha e pilar-base donde desenrolar as nossas acções.
Assim sumariamente dito, o que de essencial se trata é fazermos de todas as nossas ideias, das nossas palavras, e das nossas acções, instrumentos numa pedagogia para a construção a manutenção e a defesa daqueles dois pilares: a paz e a vida. Neste sentido, e com estes propósitos, a acção do Centro e Missão Majajane centra-se na pessoa humana, donde tudo parece emergir como o que de urgente e necessário devemos tratar.
Finalmente, não posso deixar de reconhecer o importante trabalho que foi desenvolvido no curso da anterior direcção e de agradecer a todos aqueles que contribuíram com o esforço do seu trabalho e dedicação: colaboradores, parceiros institucionais, amigos, e outras personalidades. Neste momento, e no início desta nova fase, iremos precisar de mais ideias inspiradoras, de mais ideias inovadoras, de novas luzes no caminho, e da força das vontades e das motivações de todos. Juntos, somos capazes.
Muito obrigado.
Nuno Pinto Teixeira
*Início da Primavera no hemisfério norte.