Ana Henriques do Carmo


Nasci em 1971 em Quelimane, Moçambique, onde vivi e cresci com muita alegria e felicidade com a minha família e amigos.

Guardo em mim que naquele tempo e lugar não haviam nos nossos pensamentos e corações as divisões que agora aparentemente existem entre as pessoas. Éramos todos iguais, indiferentemente da etnia, da raça, da origem social ou cultural, incluindo da religião que professávamos, ou da situação económica em que vivíamos. Bem sei agora que devido a minha idade de então não poderia estar munida do complexo de informações de carácter político do contexto em que se vivia nem com maturidade para reflectir e deter uma análise mais profunda das coisas. Mas a razão de estar a dizer isto é para ir ao encontro de uma coisa que me parece importante e relevante termos sempre presente: é que todos nós, em qualquer lugar ou contexto, não obstante vivermos sempre numa esfera de conhecimento e de ignorância, que sempre nos limita nisto ou naquilo, não deixamos nunca de ser simplesmente pessoas, seres humanos, e que, no fundo, é na e com as relações que estabelecemos com os outros que realizamos a nossa vida; ou seja, o mais importante são as pessoas e a forma e o modo como reciprocamente nos relacionamos, uns com os outros, na nossa fraterna humanidade.

Depois, e um pouco antes da independência deste país, em 1975, fomos todos para Angola onde permaneci até 1982, data em que fui para Portugal para terminar os meus estudos.

Os tempos problemáticos e perturbadores desses 7 anos desenvolveram em mim uma sensibilidade especial sobre as questões que envolvem as fragilidades e vulnerabilidades das pessoas, sobretudo dos mais fracos e inocentes como são as crianças e as jovens mães. Desde então, tenho estado ligada, de forma directa ou indirecta, ao trabalho com crianças. Sou mãe de três filhos, e sei bem da enorme responsabilidade em os educar e criar, quantas vezes com as dificuldades que na vida sempre vamos encontrando, e do desafio em criar-lhes um ambiente criativo e de segurança onde possam desenvolver-se numa envolvência de amor, tranquilidade e harmonia.

É pois com muita naturalidade, alegria e dedicação que aceitei o presente desafio de contribuir num esforço colectivo onde, todos juntos, possamos realmente contribuir com feitos práticos e impactantes nas pessoas. A Missão Majajane é também uma forma muito especial de regressar à terra que me viu nascer e crescer e donde do meu coração nunca saiu.

Vamos conseguir!